Capítulo XVI:
Sarah e a filha estavam no meio de nenhures. Estava nublado e pouco se via por ali. Puxavam o cavalo com uma corda e viajavam árdua e vagarosamente por sítios onde não havia um único sinal de vida. Apenas se podia notar que estavam num deserto, pois podiam-se avistar grandes rochedos e os pés descalços das duas raparigas estavam a sentir areia, que se prolongava pelo vasto horizonte. Apenas se ouvia o som das grandes ventanias que quase as atirava ao chão, e podia-se observar que estava prestes a despontar uma tempestade. O grande manto de areia levantava-se, e os pequenos grãos embatiam na cara de Sophie fortemente, o que fazia com que esta mantivesse os olhos fechados a maior parte do tempo. Os pés de Sarah sangravam e deixavam pegadas vermelhas por todo o areal. Na mão dela estava uma arma, a mesma arma que havia tirado a orelha a John Quantrill. Um clarão de luz apareceu diante dos olhos das duas e, quase instantaneamente, ouviu-se um estrondo. Após este primeiro relâmpago os outros começaram a aparecer sucessivamente, quase sem intervalos e cada vez se aproximavam mais das duas raparigas, que mal se apercebiam do poder da tempestade que se aproximava. O vento tornou-se mais forte e o zumbido era tão forte que abafava os gemidos de Sarah, que estava ferida.
- Agarra-te a mim querida! - exclamou Sarah quando reparou que a filha não estava a seu lado, mas Sophie não respondia.
- Mãe, mãe! - gritava Sophie que conseguia avistar uma sombra, que lhe parecia ser da mãe, mas não obtinha resposta e a sombra estava imóvel.
Sarah observava a filha a correr para uma outra sombra que não ela e um arrepio chegou-lhe à espinha. De quem seria a sombra? E seria de confiança? Sarah berrava intensamente para avisar a filha de que estava ali, e de que a sombra não era dela. Mas o zumbido do vento e o estrondo da trovoada abafavam-lhe a voz.
Sophie saltou e agarrou a sombra. Não conseguia ver quem era, nem conseguia sentir se era a mãe ou não. Porém, apalpou-lhe o rosto como acto de carinho pois estava completamente aflito. Mas aquele não era o rosto da mãe, por baixo do nariz da pessoa havia barba. Sophie continuou a apalpar o rosto desconfiada e, por fim, reparou que o indivíduo não tinha orelha.
- Mãe! Mãe! - gritou Sophie enquanto era agarrada por Quantrill.
- Sophie! Sophie! - gritava Sarah enquanto observava o homem a agarrar-lhe a filha e outros homens armados a aparecerem-lhe por traz. Porém decidiu não fazer barulho, pois pressentiu que era melhor, pois assim ainda tinha a mínima hipótese de salvar a filha. - Quantrill... Vou apanhar-te.
E desatou a correr quase sem ver nada atrás das sombras e dos gritos abafados da filha. Feria-se em rochedos e rasgava as roupas em cactos, pois não via absolutamente nada com todo aquele nevoeiro. Contudo, continuava a correr. Quando reparou que não havia possibilidade de alcançar as sombras, decidiu atirar. Pegou na arma, e com receio de acertar na filha, apontou-a a uma das sombras. Mas não o conseguia fazer... o risco era muito grande. Caiu devastada no chão e desmaiou.
*****
Os dias transformaram-se em semanas, e estas, por sua vez, transformaram-se em meses.
Os quatro assaltantes, acompanhados de Jim e Allison caminhavam ainda por Colorado. Passavam agora por uma cidade que já conheciam e onde tinham feito amigos, também assaltantes a quem pagavam para obter informações e protecção. Esses amigos impediam também que as informações relativas aos assaltos chegassem à cidade. Portanto ninguém conhecia os rapazes como assaltantes e muito menos o médico Jim, que já tinha feito dinheiro na cidade e Allison que já estava mais feliz, pois já tinha feito algumas amigas. Frank já estava quase totalmente recuperado, já andava, corria e tinha um dia a dia normal.
Tom, de madrugada, foi acordado por um bater de porta irritante. Estava num quarto de estalagem, a melhor da cidade pois estava rico. Pegou no cinturão onde se encontravam as duas armas, uma em cada lado, e abriu a porta lentamente. Era Joe Stephenson, um dos amigos protectores e criminosos.
- Tom, está uma rapariga no saloon do Bob a perguntar por ti... - disse Joe sem dar tempo a Tom para o cumprimentar. - Ela está bem armada, e diz que quer falar contigo directamente e a sós.
- Mas o que quererá ela? - perguntou Tom. - Diz-lhe que suba.
Joe anuiu, fechou a porta e desceu as escadas rapidamente.
Passados dois minutos Tom ouviu outro bater de porta. Abriu a porta calmamente com a arma atrás das costas, perante toda a desconfiança e deu de caras com uma mulher um algo familiar que tinha um chapéu a tapar o rosto.
- O que queres? - perguntou Tom. - E quem és tu?
- Tom... Meu querido marido! - exclamou Sarah que atirou o chapéu pelos ares e abraçou o marido com toda a força. Beijaram-se e Tom nem teve tempo de dizer uma única palavra.
- Sarah... Finalmente... - murmurou Tom. - Estás ferida, o que se passou? E onde está a Sophie.
- É uma longa história Tom... - murmurou Sarah. - Vou-te contar tudo ao pormenor: Nós passámos a fronteira, subornamos lá o general. Estávamos em Califórnia, ainda à tua espera quando apareceu o canalha do Quantrill e nos agarrou. Eu deu-lhe um tiro e ele ficou sem orelha, depois conseguimos fugir... Isto à três meses... ainda há mais, mas primeiro quero que tu me esclareças uma coisa.
- O quê querida? - perguntou Tom que, com tanta informação ao mesmo tempo, se sentia desnorteado.
- Ele disse que tu te tornaste um ladrão, um assassino. - respondeu Sarah com um brilhar intenso nos olhos.
- É verdade Sarah... É verdade... Parti em tua procura e tive que passar a fronteira, tornei-me criminoso e rendi-me a uma vida de crime juntamente com o Jack e com Frank e James, dois meus amigos que encontrei mal o Quantrill... Agora mais atrás... o Quantrill enviou dois homens para me matar, o Jack matou-os e eu vi-me obrigado a matar o pai dele. Agora ele quer vingança. Eu sei que é muito confuso. O meu amigo Frank foi alvejado nas costas e, por isso, temos também um médico connosco, o Jim, e a Allison a irmã dele, que insistiu em vir connosco.
- Ok, Tom... Eu perdoo-te. Mas agora a minha parte: Estávamos no meio de um deserto na Califórnia e o Quantrill apareceu e raptou a Sophie! Isto à dois meses!
- Raptaram a Sophie?!
- Sim, raptaram. Procurei informações e descobri que o canalha do Quantrill ainda está em Califórnia, só vim cá para te procurar...
- Então, vamos lá... Vamos a caminho de Califórnia.
CONTINUA...