Capítulo XII: O nevão:
Estavam os três exaustos no meio do Tenessee. Nunca tinham estado naquelas zonas de grande vegetação com grandes montanhas e nas cidades mais importantes dos Estados Unidos... Era como uma nova América, muito mais fria, mas muito mais bonita e comparada com o Texas e as planícies desertas e quentes do Sul isto era o paraíso.
Contudo a boa impressão não durou muito, pois de repente um floco de neve caiu na cabeça de Joe.
- O que é isto? - perguntou Joe que nunca tinha visto neve.
- Acho que é neve! - gritou Steve entusiasmado.
- Boa! Vamos finalmente ver a tal maravilha de que tantos forasteiros nos falavam! - disse Patrick muito contente.
Passaram-se duas horas e de repente havia neve a cair por todo o lado, os três rapazes estavam cheios de frio habituados ao calor de Inverno do Texas e passadas mais umas horas o chão ficou branco, o vento começou a soprar forte e a neve caia cada vez com mais intensidade.
- Afinal não é assim tão bom... - disse Patrick.
As vozes deles eram abafadas pelos " vuooooo " que o vento fazia.
- Este vento era capaz de nos fazer voar até à Califórnia... - disse Steve.
Passaram-se horas e horas até que os cavalos, com a neve até à barriga pararam e caíram no chão exaustos.
- Vamos ter que continuar a pé... - disse Joe a tremer com as suas roupas frescas.
- Ma... Mas... Mas ainda vamos é morrer! - disse Steve.
- Não temos outra hipótese, morremos mais depressa se ficarmos aqui parados... Temos que andar até encontrar abrigo. - disse Patrick a tremer como uma vara de nogueira posta ao vento.
Saíram dos cavalos e a neve chegava-lhes ao peito, mas não havia outro remédio, por isso continuaram.
Duas horas tinham passado e continuava a nevar, a neve já lhes chegava ao pescoço mas Patrick conseguiu avistar uma pequena choupana onde talvez pudessem pernoitar.
Bateram à porta e uma mulher espreitou pela janela de cima, primeiro pensou em não os deixar entrar, mas logo que viu as estrelas que eles levavam nas mãos abriu a porta.
- O que fazem na rua com este nevão? - perguntou a mulher com as filhas a agarrem-lhe a saia e a perguntar quem eram os senhores.
- Vimos do Texas, temos que ir até Washington, somos os novos delegados. - disse Patrick após beber um golo do seu chocolate quente.
- Texas? Vieram de longe... Chamo-me Becky, e vocês? - perguntou ela.
Os três disseram os seus nomes e Patrick perguntou:
- Gostava de falar com o seu marido, onde está ele?
- Morreu à cinco anos... Preferia não falar disso à frente das crianças. - respondeu Becky.
- Não há problema, tem umas belas crianças aqui... - disse Steve a sorrir enquanto pegava numa das raparigas.
- Já se fala de guerra contra o Sul por estas bandas... - disse Becky aos três.
- Guerra? Porquê? - perguntou Patrick.
- Nós já não somos a favor de escravos aqui no norte, fala-se de guerra contra os sulistas... Tudo por questões de raça e escravatura... - disse Becky.
- Isso não vinha nada a calhar! Se houver guerra somos logo chamados, já lutamos contra o México e não nos foi nada agradável... - disse Steve.
- De qualquer forma nós nunca fomos a favor da escravatura, se tivermos que ir para a guerra vamos pelo Norte. - disse Patrick a sorrir para Becky. - Como morreu o seu marido já agora?
- Na guerra contra o México... Ele chamava-se Grant e era general. - disse Becky com uma lágrima no olho.
- General Grant? Esse estava connosco, levou com um tiro de canhão e morreu, nós conhecíamo-lo. - disse Joe.
- Com que então serviram com ele? Peçam qualquer coisa, pois eu ajudarei quaisquer patriotas. - disse Becky.
- Não sei se merecemos, não sei se fomos os melhores patriotas... Quando a batalha estava a terminar fugimos e fomos os únicos sobreviventes. - disse Steve e Patrick acenou afirmativamente, mas Joe ficou com cara de zangado.
- Não faz mal, fizeram o que tinham de fazer. Se a batalha já estava perdida não havia muito que fazer. - afirmou Becky a sorrir. - Passem cá a noite e partem amanhã de manhã se o tempo estiver melhor.
- Muito obrigado. - disse Steve que não conseguia tirar os olhos da rapariga.
- Fique sossegada, nós dormimos aqui no chão não é Steve? - perguntou Patrick a rir depois de ter reparado nele.
- Sim acho eu... - disse Steve que deu uma cotovelada no irmão.
- Então boa noite. - disse Becky e foi para o seu quarto.
No dia seguinte Patrick acordou e encontrou Steve já a conversar com Becky na cozinha e Joe no chão a dormir que nem uma pedra. Patrick encostou o ouvido à porta enquanto sorria para ouvir a conversa do irmão.
- Por acaso não quer partir connosco? Podíamos arranjar-lhe uma boa casa onde quiser. - disse Steve.
- Não sei não, esta choupana vale muito sentimentalmente para mim. - disse Becky.
- Pense nisso, significava muito para nós. - disse Steve.
- Mas eu tenho duas filhas... Como as iríamos levar visto que vocês nem cavalos têm? - perguntou Becky.
- Compramos uma carroça em Nashville. - disse Steve que estava a ficar sem esperanças.
Becky pensou durante algum tempo e depois disse:
- Está bem, eu vou. Mas espero que não seja com maus fins, se é que me entende.
- Não se preocupe, é muito bonita, por isso vou tomar bem conta de si e não a vou por em maus lençóis. Prometo.
Patrick abriu a porta e entrou.
- Bom dia! - disse.
Becky e Steve coraram e puseram-se a contar o que tinham combinado. Patrick fingiu estar espantado e acenou afirmativamente.
CONTINUA...