9Gomez
Member
A ordem da Vida…
16 de Junho de 2004, aos 78 minutos do jogo Portugal-Rússia da fase de grupos do Euro 2004, Scolari substitui o veterano capitão Luís Figo (estrela mundial e do R.Madrid) por um miúdo de 19 anos… Figo fica desagradado e, de imediato, estala a polémica entre o selecionador e o capitão Figo.
O miúdo de 19 anos que substituiu a estrela Figo aos 78 minutos do jogo contra a Rússia, nunca mais perdeu a titularidade na seleção nos 18 anos seguintes… Chama-se Cristiano Ronaldo…
Hoje é CR7 que cede lugar aos mais jovens…
Tudo normal. Chama-se a isto a ordem da vida.
Ele, e nós, merecem que o extraordinário exemplo de vida, talento e tenacidade de um menino pobre sejam perpetuados no tempo. Aqueles que defendem o “elevador social” só podem encontrar no Ronaldo o mais perfeito exemplo da batalha, do árduo esforço, da dedicação e compromisso, da vontade. Somos um país pequeno, muito pequeno. Mas se os portugueses não fossem grandiosos já teríamos perecido enquanto nação. Isso nunca aconteceu, porque há figuras entre nós que nos lembram o que somos e do que somos capazes.
Mas quando estão em causa as cores e os símbolos da bandeira revejo-me naquela luta, naquela entrega, e, tantas vezes, naquela frustração. Cristiano Ronaldo lutou toda a vida contra tudo: contra as suas circunstâncias; contra a inveja; contra os lobbies (até fazer parte deles); mas nunca perdeu o brilho no olhar de que só são capazes aqueles que verdadeiramente acreditam que é possível moldar o nosso próprio destino. Cristiano Ronaldo é um herói improvável. É nosso. Eu, gostava de lhe dar uma palmada nas costas, abraçá-lo e dizer-lhe: obrigado. Um agradecimento por tudo o que ele fez por todos aqueles que não nasceram em berços confortáveis. Queria só dizer-lhe: “obrigado por nunca desistires de ti”.
Este é o primeiro dia do resto da vida de Cristiano Ronaldo. Haverá quem fique feliz com isso, a mim dói-me de ver. Como é penoso ver as manifestações de alegria com a tristeza alheia. Cá não temos nome para a pior manifestação da inveja. Mas é fácil de identificá-la. Não é bonita.
Cristiano é também um homem e a sua circunstância, a de quem “envelhece” e tropeça à vista do mundo inteiro, com todos os holofotes e todas as câmaras voltadas para ele. Captando cada esgar, cada sinal de frustração, cada engolir em seco, cada olhar aos céus a perguntar pela boa estrela que teima em não lhe assistir agora, no início do fim da sua espetacular carreira. Tentemos imaginar o que isto custa. Tentemos calçar as suas chuteiras de ouro. Falhar é sempre duro. Falhar lá de cima do pedestal é esmagador. Insuportável. Inimaginável.
Quem não tropeça em si mesmo nesta vida? Não se duvide: mesmo os maiores, os melhores, tropeçam nos próprios pés. Fazem merda. Desiludem. Erram. E a forma como lidamos com os tropeços alheios – sobretudo os de quem já tantas alegrias nos deu – diz muito mais sobre nós, do que sobre quem escorregou e caiu.
Ronaldo, o maior, tem ainda muito mais para dar ao País e ao futebol. Mas tem agora uma decisão fundamental, a mais importante da sua carreira: como gerir a frustração e encarar o inevitável, aceitando que não será o maior para sempre? Perceber que há grandeza além dos golos. Perceber que há magia além das quatro linhas.
Não me atrevo a dar-lhe conselhos. Mas apetecia-me dar-lhe um abraço.
16 de Junho de 2004, aos 78 minutos do jogo Portugal-Rússia da fase de grupos do Euro 2004, Scolari substitui o veterano capitão Luís Figo (estrela mundial e do R.Madrid) por um miúdo de 19 anos… Figo fica desagradado e, de imediato, estala a polémica entre o selecionador e o capitão Figo.
O miúdo de 19 anos que substituiu a estrela Figo aos 78 minutos do jogo contra a Rússia, nunca mais perdeu a titularidade na seleção nos 18 anos seguintes… Chama-se Cristiano Ronaldo…
Hoje é CR7 que cede lugar aos mais jovens…
Tudo normal. Chama-se a isto a ordem da vida.
Ele, e nós, merecem que o extraordinário exemplo de vida, talento e tenacidade de um menino pobre sejam perpetuados no tempo. Aqueles que defendem o “elevador social” só podem encontrar no Ronaldo o mais perfeito exemplo da batalha, do árduo esforço, da dedicação e compromisso, da vontade. Somos um país pequeno, muito pequeno. Mas se os portugueses não fossem grandiosos já teríamos perecido enquanto nação. Isso nunca aconteceu, porque há figuras entre nós que nos lembram o que somos e do que somos capazes.
Mas quando estão em causa as cores e os símbolos da bandeira revejo-me naquela luta, naquela entrega, e, tantas vezes, naquela frustração. Cristiano Ronaldo lutou toda a vida contra tudo: contra as suas circunstâncias; contra a inveja; contra os lobbies (até fazer parte deles); mas nunca perdeu o brilho no olhar de que só são capazes aqueles que verdadeiramente acreditam que é possível moldar o nosso próprio destino. Cristiano Ronaldo é um herói improvável. É nosso. Eu, gostava de lhe dar uma palmada nas costas, abraçá-lo e dizer-lhe: obrigado. Um agradecimento por tudo o que ele fez por todos aqueles que não nasceram em berços confortáveis. Queria só dizer-lhe: “obrigado por nunca desistires de ti”.
Este é o primeiro dia do resto da vida de Cristiano Ronaldo. Haverá quem fique feliz com isso, a mim dói-me de ver. Como é penoso ver as manifestações de alegria com a tristeza alheia. Cá não temos nome para a pior manifestação da inveja. Mas é fácil de identificá-la. Não é bonita.
Cristiano é também um homem e a sua circunstância, a de quem “envelhece” e tropeça à vista do mundo inteiro, com todos os holofotes e todas as câmaras voltadas para ele. Captando cada esgar, cada sinal de frustração, cada engolir em seco, cada olhar aos céus a perguntar pela boa estrela que teima em não lhe assistir agora, no início do fim da sua espetacular carreira. Tentemos imaginar o que isto custa. Tentemos calçar as suas chuteiras de ouro. Falhar é sempre duro. Falhar lá de cima do pedestal é esmagador. Insuportável. Inimaginável.
Quem não tropeça em si mesmo nesta vida? Não se duvide: mesmo os maiores, os melhores, tropeçam nos próprios pés. Fazem merda. Desiludem. Erram. E a forma como lidamos com os tropeços alheios – sobretudo os de quem já tantas alegrias nos deu – diz muito mais sobre nós, do que sobre quem escorregou e caiu.
Ronaldo, o maior, tem ainda muito mais para dar ao País e ao futebol. Mas tem agora uma decisão fundamental, a mais importante da sua carreira: como gerir a frustração e encarar o inevitável, aceitando que não será o maior para sempre? Perceber que há grandeza além dos golos. Perceber que há magia além das quatro linhas.
Não me atrevo a dar-lhe conselhos. Mas apetecia-me dar-lhe um abraço.